3 de nov. de 2011

OR QUE OS CRISTÃOS PODEM ESTUDAR A TORÁ (LEI)?



 
O estudo semanal da Torá e Haftará é algo muito antigo, datando da época do pós- exílio dos judeus na Babilônia, quando surgiram as primeiras sinagogas. Até então só havia o Templo, onde se realizavam as oferendas e sacrifícios a D’us pelos sacerdotes e levitas. O Templo era também o lugar onde se lia e se estudava a Torá e os demais livros das Escrituras. No tempo de Esdras e Neemias, o estudo da Torá foi restaurado. A Torá, também conhecida como “Chumach” ou Pentateuco, se compõe dos cinco primeiros livros da Bíblia, e foi dividida em porções que eram lidas e ensinadas ao povo , semanalmente, a cada sábado.

A partir do ano 130 a.C, os Fariseus ampliaram a restauração dos ensinamentos da Torá ao povo. Assim, quando Yeshua iniciou seu ministério, anunciando as Boas Novas, a classe sacerdotal e o povo podiam entender e discernir sua mensagem com base nos princípios da Torá.

Creio, pessoalmente, que estamos novamente numa época de restauração da Torá, tanto para os judeus, quer messiânicos ou não, como para os crentes não judeus, pois estamos vivendo um tempo de advento para a segunda vinda em glória do Messias Yeshua como Rei dos reis.

Na verdade, o que preservou a fé judaica, a língua hebraica, a cultura e as tradições desde aquela época, foi o ato de se estudar a Torá a cada sábado, pelos menos por uma pequena parte dos judeus religiosos que viveram e ainda vivem na diáspora. 

Yeshua, seus discípulos e depois os seus seguidores da Igreja primitiva, estudaram a Torá até meados do século IV, quando Roma avocou para si a primazia e divulgação da religião cristã, a qual passou a ser denominada de Católica ou Universal, (período posterior ao Imperador Constantino). Nesta época, a igreja (que até então vivia segundo o padrão e características do primeiro século), começou a perder suas raízes judaicas, distanciando-se cada vez mais delas. Esta não foi uma decisão isolada de algum líder da Igreja, mas um processo de distanciamento através de muitos Concílios, Encíclicas dos Pontífices e de líderes da época. Na minha opinião, na maioria das vezes, este distanciamento de Israel e dos princípios da Torá não foi em sua totalidade intencional, mas o afastamento ocorreu como conseqüência do posicionamento da igreja. Por exemplo, se a igreja Católica tivesse dado prosseguimento ao estudo semanal da Torá como faziam os apóstolos, jamais teria permitido o culto e as orações aos mortos, às imagens, a guarda do domingo e outras doutrinas, pois tais ensinamentos são radicalmente antagônicos à Torá. 

Creio que estamos dando início a um grande avivamento aos membros do Corpo de Cristo. Tal avivamento virá à medida que a própria Igreja descobrir e restaurar esta originalidade perdida, suas raízes e contextos judaicos da fé. Isto não significa “judaizar” a igreja ou forçar um gentio crente a viver como judeu. Em hipótese alguma isto é permitido pela Bíblia. Mas todos os crentes podem resgatar e se beneficiar de várias outras bênçãos dadas por D’us a Israel, mas que através de Yeshua se tornam extensivas a todos os crentes, segundo o enxerto descrito por Paulo em sua carta aos Romanos, no capítulo 11. A esse respeito falaremos mais adiante no decorrer de nossos estudos.

O Judaísmo Messiânico hoje no Brasil já é uma realidade, e deve servir de “ponte” entre Israel e a Igreja. Ao mesmo tempo em que alcança judeus na crença no Messias Yeshua (Jesus), motiva estes a não perderem sua identidade judaica como povo escolhido, uma vez crendo nos ensinamentos do Novo Testamento. Além disso, os judeus messiânicos podem ajudar a Igreja gentílica a conhecer os princípios bíblicos e judaicos da Igreja do primeiro século, levando-a à restauração das raízes da fé cristã. 

Assim, iniciamos em 1997, em Belo Horizonte, o estudo semanal da Torá para alguns judeus crentes e para todos os irmãos e irmãs, judeus ou não-judeus, que desejassem restaurar os princípios bíblicos e judaicos vividos pela Igreja do Primeiro Século, nos moldes adotados pelos apóstolos e discípulos de Yeshua. Desde então, nunca ficamos um sábado sequer sem estudar a Torá. Várias denominações cristãs e evangélicas, além das Congregações Judaico-Messiânicas, têm sido abençoadas através de nossos estudos em apostilas, fitas cassetes e cds. Porém, sentimos o dever de ampliarmos este precioso estudo a todos, de maneira que não alcancemos somente os líderes religiosos, mas também os crentes interessados na restauração das raízes bíblicas e judaicas da fé nos moldes do primeiro século.

Creio estarmos entrando num tempo de grande renovação e restauração. A igreja de Yeshua não necessita mais de reforma, na minha opinião. Ela já foi reformada por Lutero, Calvino, Moody, Wesley e outros grandes homens de D’us. O que a igreja precisa hoje é de voltar às suas raízes, ao padrão do primeiro século descrito no livro de Atos e em toda a Bíblia. A isto chamamos “Restauração”, ou seja, viver os mesmos princípios que foram promulgados pelos apóstolos e discípulos de Yeshua. Entender a Bíblia no contexto judaico é a base de todo este processo de restauração. Restaurar é voltar ao início, à originalidade dos princípios da fé. A doutrina da Torá, vivida por Yeshua e por todos os seus seguidores, constitui a base desta restauração que estamos propondo. A volta à fé pura, genuína e de grande espiritualidade e poder. É isso que estamos propondo, re-introduzindo a Igreja, o Corpo do Mashiach, aos princípios bíblicos da Torá. 

O estudo das Escrituras tem trazido conhecimento, enriquecimento e grande libertação em nosso meio. A Bíblia, do primeiro ao último livro, foi inspirada pelo Espírito Santo de D’us na mais plena sabedoria divina. Se tivermos intimidade com esta palavra, crendo nela e vivendo-a intensamente, seremos beneficiados por ela, vencendo obstáculos e adversidades, alcançando o sucesso e a prosperidade a cada dia. Se cremos realmente que D’us criou o homem à sua imagem e semelhança, então, nossa responsabilidade e maturidade têm que diferir em muito de uma pessoa descrente ou daquela que desconhece a Palavra de D’us. Quando estudamos a Bíblia sob este prisma, nossa mente se abre, passando a interagir com a mente Divina, o que nos leva a um esvaziamento do nosso próprio conhecimento humano para sermos preenchidos pelo conhecimento divino e supremo. A Torá foi, é, e sempre será o livro que por excelência foi escrito pelo próprio “dedo” de D’us. 

Somos luz para brilhar não onde já existe luz, mas nas trevas. A luz no ambiente luminoso não causa nenhum efeito. Então, quando aprendemos a Palavra de D’us, estamos nos qualificando para que a Sua natureza seja refletida em nós. É necessário que nos esvaziemos do nosso brilho opaco para que a Sua luz possa brilhar com maior intensidade e qualidade em nós, sobretudo, através de nós. Esta luz de D’us vai brilhar à medida que participamos do estudo, do ensino e de uma maior compreensão da Palavra de D’us. O profeta Oséias disse: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento (da Palavra de D’us – Os 4:6)”. D’us está levantando uma igreja santa, madura, forte, composta de homens e mulheres corajosas. 

Gostaria também de esclarecer ao Leitor que este estudo da Torá requer que tenhamos pelo menos uma base e experiência com a Palavra viva de D’us. Yeshua disse: ... em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de D’us.”( Jo 3:3). É deste nascimento espiritual que estamos tratando. Não basta ser religioso ou ter títulos religiosos; é necessário além do conhecimento, ter sido mudado, transformado e experimentado pelo poder que há na Palavra de D us.

O que significa a Palavra Torá?

A palavra Torá, em hebraico, significa “ensino”, “instrução”, e equivale aos cinco primeiros livros da Bíblia: Bereshit (Gênesis), Shemôt (Êxodo), Vaykra (Levítico), B’midbar (Números), D’varim (Deuteronômio). No grego, esses cinco livros são conhecidos como “Pentateuco”.

A palavra Haftará é a Leitura conclusiva da Torá, em que são lidos os livros dos “Ketuvim” (livros da sabedoria e históricos como Provérbios, Salmos, Cantares, Reis, Crônicas, Josué, etc.) e os “Neviim” ou seja, os livros dos profetas. 

Para nós messiânicos, não há como estudar a Torá ou a Haftará, sem complementá-las com os evangelhos e com os demais livros do Novo Testamento - B’rit Chadashá. O estudo deve ser conclusivo, e só pode ser verdadeiro na “graça”, que o complementa e viabiliza seu real cumprimento profético. A graça completa o propósito de D’us. A própria Torá seria incompleta sem a graça. Costumo dizer que a graça sem o conhecimento da Lei fica “sem graça”, pois tudo se completa e se cumpre em “Yeshua Há Mashíach” (Jesus, o Messias), a “graça personificada de D’us”. Se estudamos a Torá juntamente com a graça, iremos alcançar o propósito final de D’us que está em Yeshua. O maior propósito de D’us para nós está em Romanos 8:29 : “ter filhos semelhantes a Yeshua”.

Então, devemos entender os princípios existentes por de trás de cada Lei dada por D’us, juntamente com a Sua graça. No Messias, nós tomamos posse das promessas de Abraão, ou seja, entramos na Lei mediante a graça (Gálatas cap.3). Temos direito às antigas e às novas promessas. “Promessa” significa também “testamento”, herança, bênçãos. O Messias é o Amém de D’us. Tantas quantas forem as promessas de D’us, todas elas se cumprem na pessoa do Messias Yeshua, como a salvação, a vida eterna, a saúde, a paz, a prosperidade e tantas outras. Os livros do Novo Testamento foram escritos com base na Torá e nos demais livros da Tanách. Como exemplo disto, basta citar o último livro da Bíblia, Apocalipse, onde dos 406 versículos, encontramos 278 como repetição da Torá, isto é, mais da metade do livro de Apocalipse.

Para nós, judeus messiânicos, não há sentido em dividir as Escrituras em “velho” ou “novo” testamento, pois nada se tornou velho e nada foi transformado em novo. Paulo diz em sua carta a Timóteo que toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça... ( I Tim 3:16). Em Romanos, o mesmo Paulo diz: Toda a Lei é santa, o mandamento santo, justo e bom...( Rm 7:12). Para nós, existe claramente a primeira aliança que consolida Israel como povo escolhido pelas Leis do Sinai, e a segunda aliança, estabelecida no Gólgota, onde Yeshua venceu a morte. A fé em Sua pessoa possibilita a salvação a todo aquele que Nele crê. 

A Torá está dividida em 54 porções, correspondentes às semanas do ano judaico, que seguem o sistema lunar e não o solar, ajustado por São Gregório. Cada porção é chamada de Parashá. Para cada porção, há uma Leitura complementar extraída de outro Livro do Antigo Testamento. Esta Leitura complementar é chamada de Haftará. Quando Yeshua foi à sinagoga e leu o trecho do profeta Isaías (Lucas 4:16 e Isaias 61:1), o que Ele fez na verdade foi ler a porção da Haftará daquela semana. Já era assim nos dias de Yeshua, só que Ele era o cumprimento da Lei. Não havia o Novo Testamento; Ele era o próprio Novo Testamento. Yeshua, como bom judeu, sabia que naquele dia seria lida a Haftará sobre o Ungido, e então declarou ser Ele o Messias do qual o texto de Isaías se referia. 

Cada Parashá se inicia com uma palavra. Esta palavra inicial é chamada de “palavra-chave” da Parashá, pois se prestarmos atenção toda a porção vai girar em torno dela ou terá de uma forma direta ou indireta uma correlação com ela, como se nela estivesse centrada a mensagem daquela porção. 

O ciclo de estudos se inicia no mês de Tishrei, quando se celebra “Rosh Hashanah”, o ano novo Judaico que geralmente cai em setembro, no calendário romano. O dia em que se inicia a Leitura anual das porções da Torá chama-se “Simchát Torá” (Alegria da Torá). Lembremo-nos que a Bíblia segue o calendário lunar, que é muito mais prático e de fácil entendimento quando se tem em mente os ciclos agrícolas. Assim, todas as Festas Bíblicas seguem o ciclo agrícola e o calendário lunar. 

A carta de Paulo aos Gálatas permite que nós, na graça, possamos usufruir das bênçãos da Lei. É até certo ponto compreensível que o cristão tenha certo preconceito quanto à Lei, pois foram recebidas muitas informações, ao longo de vários séculos, não coerentes com os princípios da Torá. Por exemplo, o primeiro Concílio de Nicéia (325 a.C), deu oficialmente início a separação entre a Igreja e Israel, e entre os judeus e os cristãos. Marcião, bispo católico, chegou a afirmar que todo cristão que portasse algum símbolo judaico, seria culpado pela morte de Yeshua. O diabo sabe que Yeshua voltará, como também sabe que as portas do inferno não prevalecerão contra a verdadeira Igreja. O diabo sabe que a vinda do Messias é a sua consumação. Sabe que cada “Yud” (menor letra do alfabeto hebraico equivalente à letra “i” em português) da Lei deve ser cumprido. Sabe que Yeshua voltará para Israel e que os judeus O reconhecerão como o Messias, sendo salvos conforme os textos de Zacarias cap 12, Romanos cap 11, Efésios cap 2, Tiago cap 5, Oséias cap 6, Joel cap 2, e muitas outras profecias. O diabo sabe que se o povo judeu como um todo se converter a Yeshua, haverá vida entre os mortos ( Rm 11:15). A volta de Yeshua é eminente, e na batalha do mundo espiritual, surgiu o movimento anti-semita, que é um movimento contra a restauração de Israel e o regresso do povo judeu à sua terra. Ele nada mais é do que uma oposição e protesto do inimigo contra o plano divino. Não se precisa ir longe na história. Na época das Cruzadas, organizadas inicialmente para reaver os lugares sagrados da Terra Santa e tirá-los das mãos dos muçulmanos, não encontrando mais muçulmanos, os cristãos se voltaram contra os judeus. Isto durou de 1096 até a última Cruzada, em 1281. Muitos judeus foram mortos, os lugares santos tomados e houve uma perseguição ferrenha contra eles, tidos como raça ruim e responsável pela morte de Yeshua. O movimento medieval dos cristãos, obrigou os judeus a usarem chapéus com três pontas, o que os diferenciavam dos demais cidadãos, além de publicarem horrendas caricaturas de judeus comparando-os com o próprio demônio. Quantos não se lembram do sábado de aleluia, quando um boneco de pano representando Judas Escariotes, o traidor de Jesus, era queimado representando a vingança contra o povo judeu pela morte de Cristo? Infelizmente, pode-se observar que o anti-semitismo esteve e ainda está enraizado na mente de muitas pessoas. O diabo pensava que podia colocar a igreja contra Israel. Mas a igreja ainda é poderosa para orar e contribuir para que o povo judeu receba seu verdadeiro Messias, fato este que dará início ao reino de D’us.

Mas por que D’us escreveria a Torá?

Um pensador chinês do século passado[MMG1] [1] que acreditava na Bíblia, tenta responder esta pergunta apresentando pelo menos cinco fundamentos lógicos:

- Primeiro: neste livro encontraríamos em algum lugar D’us dizendo ser o seu próprio autor;

- Segundo: este livro deveria conter um alto padrão moral;

- Terceiro: este livro falaria do passado, do presente e do futuro;

- Quarto: daria ao homem respostas às grandes dúvidas sobre o universo, a criação, o por quê de tudo, o sentido da vida, etc.;

- Quinto: Ele próprio daria uma solução definitiva e eterna para o homem.

Os 66 livros que compõem a bíblia foram escritos num período aproximado de 1.500 anos por 40 autores que viveram em épocas diferentes, tinham idades diferentes, cultura, profissão e grau de instrução dos mais variados. Eles conseguiram registrar fatos, princípios e Leis que não só trazem qualidade de vida para a humanidade, mas apresentam uma solução e uma resposta final para a eternidade do homem, não escondendo em momento algum suas fraquezas, seus questionamentos e erros de uma mente humana.

Por que só a Bíblia é verdadeira, dentre os livros de outras religiões?

O assunto seria muito vasto para tentar responder a esta pergunta. Mas, vamos analisar pelos menos três das maiores religiões e seus líderes à luz destes cinco fundamentos lógicos citados anteriormente.

Nem Confúcio, Buda ou Maomé citam em momento algum em seus escritos a frase: “Assim diz o Senhor D’us(...)”, afirmando ser o próprio D’us o autor de seus livros.

Sabemos que nos livros dos pais das grandes religiões, podemos encontrar princípios que ajudam e até colaboram para a melhoria da qualidade de vida da humanidade. Não os estamos questionando sob este ponto de vista. Mas, será que eles atendem pelo menos aos cinco fundamentos citados, explicando o passado e o futuro da humanidade, preservando-se o alto padrão moral, afirmando ser D’us o próprio autor de seus ensinamentos? 

Imagine que uma certa religião ensine que se alguém quiser se tornar mártir deverá matar a si mesmo além de outras pessoas não membros de sua religião, pois assim estará realizando um ato de bravura e de heroísmo ao seu deus. E como prêmio, irá direto para o paraíso onde será recebido por dezenas de virgens que irão satisfazer todos seus desejos e prazeres carnais. Será que este ensinamento foi inspirado por um D’us criador da vida e detentor de um alto padrão moral? Será que tirar a própria vida, incluindo a de pessoas inocentes em nome da defesa e da honra de uma religião, tem realmente uma origem divina?

Mas, vamos supor que exista uma coletânea de livros chamados de Bíblia, que foram realmente inspirados por D’us. Como será que este livro conta a origem das plantas, dos animais e acerca do homem? 

A Origem da Torá

Será que Moisés escreveu a Torá de sua própria mente? A Bíblia diz que o dedo de D’us foi usado para escrever as tábuas de Lei. D’us ordenou que Moisés descesse o monte Sinai com as tábuas da Lei, que Ele mesmo escrevera, usando a concisa língua hebraica. Em tudo há um propósito de D’us. Ele escolheu um povo, o tirou do Egito, libertou esse povo, usou profetas para falar-lhe, trouxe o Messias no devido tempo e agora Yeshua está voltando e a igreja cristã como um todo não tem entendido bem seu papel e suas próprias raízes e origens e nem mesmo a própria Torá no seu contexto profético e escatológico, como veremos a seguir.

Ninguém pode entender e se aprofundar no estudo da Torá, sem limpar sua mente dos conceitos pré-estabelecidos, de pensamentos e atitudes Anti-semitas. A Torá fala do Messias Yeshua, que veio e que volta para Israel. Ele estará pisando na cidade do grande Rei, Jerusalém. É evidente que Ele não volta para Nova York ou Paris ou São Paulo. A fé que a Bíblia nos ensina é algo dentro do contexto profético e característico do povo judeu. Portanto, a fé cristã não tem origem americana, brasiLeira, francesa ou japonesa, a fé nasceu no contexto judaico. Os 40 autores da Bíblia, exceto Lucas, são judeus e escreveram numa língua ditada por D’us, chamada hebraico, que traduz o Seu pensamento. Yeshua é judeu, os discípulos e os apóstolos também o eram. A Bíblia é uma expressão da cultura e do pensamento judaico, da história e das antigas tradições. No entanto, quantos conceitos pagãos ainda fazem parte do pensamento cristão os quais não têm nada a ver com a cultura bíblica/judaica. Não podemos esquecer que a Bíblia é um conjunto de livros judaicos, escritos dentro da cultura e características do povo hebreu.

O apóstolo Paulo diz em sua carta aos Romanos, comparando Israel com uma oliveira, que alguns ramos foram quebrados e que os gentios foram enxertados no lugar deles, sendo eles (gentios), feitos participantes da raiz e da seiva desta oliveira. Que lindo propósito de D’us, pois através do Messias Yeshua todos podem ser enxertados nesta oliveira, o Israel de D’us. Evidentemente, diz Paulo ainda no capítulo 11, os judeus não permanecerão na incredulidade do Messias, e serão re-enxertados nesta Oliveira. “Se a rejeição dos judeus ao Messias foi bênção para o mundo gentílico, quanto mais será agora com a sua conversão. Por acaso não haverá ressurreição dos mortos?” ( Rm11:15). Se a Bíblia aqui se refere à ressurreição dos mortos em Yeshua, à trombeta tocando, às sepulturas se abrindo, então Yeshua voltará quando os judeus O reconhecerem como o Messias.

O diabo sabe que a única autoridade oficial delegada por D’us na terra, que pode gerar a conversão de Israel e fazer com que a oliveira velha e cansada possa produzir novos frutos na graça, é a Igreja de Yeshua. E sabendo disso, ele semeia o anti-semitismo, algo que vem do inferno para afastar a Igreja de Israel. Por isso, em minha opinião, não há sentido falar da volta de Yeshua sem mencionar que haverá uma Igreja madura capaz de despertar ciúmes em Israel, gerando a sua salvação. D’us, no controle de todas as coisas, já estabeleceu que de Sião virá o Libertador e Ele desviará de Jacó as suas impiedades, pois o endurecimento que em parte veio sobre Israel se findará quando a Igreja gentílica entrar em sua plenitude, ou seja, atingir a qualidade e maturidade de uma fé inabalável, refletindo a imagem e a estatura de um Varão Perfeito, do próprio noivo Yeshua. Quando a igreja gentílica entrar nessa plenitude do conhecimento da Palavra, tomando posse de toda a Escritura, aí sim Israel (não necessariamente “todo” Israel, mas grande parte), isto é, os judeus, vão se arrepender e receber Yeshua como seu Mashiach, sendo salvos. Ai daquele gentio crente (que foi enxertado na oliveira) que se ensoberbecer, desprezando e ignorando o chamado irrevogável que D’us firmou com Israel! O capítulo 11 de Romanos é bastante claro para que todos nós possamos tirar dele grandes revelações e propósitos. 

Por que um cristão pode estudar a Torá, se ele já se encontra na graça? 

É bom que se esclareça que a Torá não substitui a obra do Calvário, ou seja, não há substituição da aliança do Sinai pela nova aliança feita no Gólgota, cujo objetivo final é de salvar ou redimir o homem caído pelo pecado. Isto se faz através da obra da cruz, ou seja, Yeshua como sacrifício vivo que morreu para salvar a humanidade, ou melhor, para salvar todo aquele que Nele crê. Isso a maioria dos cristãos entende muito bem. Então, para que estudar a Torá uma vez que já alcançamos a graça do Calvário? Além da Torá confirmar e nos ensinar sobre este tremendo sacrifício (D’us enviando seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, nos resgatando da maldição do não cumprimento da Lei), D’us deseja que toda pessoa salva continue a andar no Caminho e na vontade Dele, restaurando as áreas ainda não totalmente restauradas de suas almas. Se qualquer um de nós, no momento em que passamos a crer em Yeshua, tivéssemos automaticamente uma restauração plena de nosso caráter e das falhas de nossa personalidade, não haveria necessidade de se estudar a Torá, pois a graça do Gólgota seria suficiente. Deixe-me explicar melhor. Se D’us desejasse somente a vida eterna para o homem, bastaria que crêssemos em Yeshua para morrermos logo em seguida, partindo para a eternidade. Mas, na prática, nos convertemos a Yeshua e continuamos a viver nesta terra, no meio de grandes adversidades e problemas. É incrível, mas D’us nos dá uma nova natureza para continuarmos a viver num “deserto” ou num “Egito”, no meio de homens maus, num mundo cheio de violência, roubo e corrupção. Aqui está a grande chave de se entender a Torá, estando já gozando de uma nova vida no Messias Yeshua. Apesar do novo nascimento no espírito, não alcançamos ainda um caráter sadio, plenamente restaurado. Por isso, David no Salmo 19 diz: ... “A Lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.” D’us deseja que os princípios da Lei encontrados na Torá sejam nosso limite, como se fossem uma cerca para nos proteger e nos livrar do contágio com este “deserto”, o mundo que jaz no sistema do maligno. Em outras palavras, os princípios da Torá nos trazem qualidade de vida. Este é o motivo pelo qual nós, crentes em Yeshua, estudamos a Torá.

D’us não está preocupado com o legalismo da Lei, mas sim com o seu princípio

Muita gente pensa que uma vez alcançada a graça, não há mais necessidade de se conhecer acerca da Lei e dos princípios da Torá. Yeshua não veio para revogar a Lei, mas para cumpri-la, diz o evangelho de Mateus (Mt 5:17). Yeshua e os apóstolos nos ensinaram que D’us não deseja legalistas, fanáticos ou hipócritas vivendo sob o peso da Lei. A Torá se resume no amor a D’us e ao próximo. Se não existir o amor, Paulo nos ensina que as Escrituras perdem o sentido. O evangelho ensinado por Yeshua sempre se baseou nos princípios da Torá. Assim, se praticamos a Lei judaica dos dízimos e ofertas, devemos fazê-los com amor e liberdade, e não como uma Lei que nos obriga e nos oprime. Aí está a diferença que muitos crentes não entendem. A Torá nos ensina sobre o livre arbítrio, o exercício de nossa liberdade. Ela nos ensina como vivermos a cada no incomensurável amor divino, onde os filhos se relacionam verdadeiramente com o Pai. Assim, podemos ver a Torá como um livro não exclusivo do povo judeu, mas como “o livro de cabeceira” do crente, onde ele aprenderá Leis que lhe trarão benefícios e muito senso de justiça para com o próximo. Desde o simples ato de aprender sobre as Leis alimentares dadas por D’us, até um posicionamento justo para indenizar um irmão lesado, ou ainda, como indenizar com justiça um empregado que trabalhou para nós; tudo isto é tratado em profundidade na Torá. A Torá trata dos aspectos práticos da vida.

Aquele que se julga perfeito perante D’us, sem defeitos ou fraquezas, não precisa estudar a Torá.

Um erro teológico do cristianismo: a graça anulou a Lei

Romanos 10:4 diz: “Pois Cristo é o fim da Lei para justiça daquele que crê”. Em outras versões temos: “pois o fim da Lei é Cristo”. A palavra “fim” no grego é “télos”, a qual não tem o significado de “destruir”, “exterminar”, “findar” ou “terminar”. O sentido principal dessa palavra é “cumprir” (Lc 22:37 e I Tm l:5). Então, o cumprimento da Lei é Cristo, ou seja, n’Ele cumpriu-se toda a Lei. Gálatas 3:13: “Cristo nos resgatou da maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” Portanto, entendemos que o “resgatar da maldição da Lei” não quer dizer que a Lei seja maldita, mas sim, que o não cumprimento da Lei gera maldição. A graça não anulou a Lei e na Lei encontramos também a genuína graça de D’us. É claro que a maior de todas as graças é D’us perdoando nossos pecados através do Messias que verteu seu sangue por nós. Mas vemos também a graça de D’us presente na Torá: quando o Mar Vermelho se abriu, quando o Maná caiu do céu, ou simplesmente o fato dos hebreus terem chegado vitoriosos à terra de Canaã. 

Se a humanidade praticasse, pelo menos três das Leis do Decálogo, como por exemplo: não matar, não furtar e não adulterar; os presídios estariam praticamente vazios e o mundo vivendo quase num paraíso. Assim, não será difícil entender que o mundo precisa conhecer a Torá. Agora imagine se o mundo conhecesse e praticasse as Leis da Torá e que toda natureza humana passasse pelo novo nascimento pela fé em Yeshua, estaríamos realmente vivendo num paraíso. Mas, D’us não desistiu do homem, aquele que fora criado à Sua imagem e à Sua semelhança. Haverá ainda um dia em que o Messias voltará e implantará o reino de D’us nesta terra, julgando as nações e os povos.

A Lei e os tipos de Leis

A palavra Lei, “Dat” () no hebraico, tem sentido genérico. Esta Lei engloba os mandamentos, estatutos e ordenanças, como veremos a seguir. Conhecer profundamente o significado destas palavras, as quais creio ser uma grande revelação, certamente trará muitas e muitas bênçãos para nossas vidas. 

Há vários tipos de Leis no contexto judaico, como: as Leis de cunho cerimonial”, “moral” e “ética”, as Leis circunstanciais (que valeram para aquele período de travessia no deserto), as Leis alimentares, as Leis referentes ao trabalho, as Leis indenizatórias, etc.

A “Lei cerimonial” se ocupava do sacrifício de bodes, cabritos, touros e cordeiros para remissão dos pecados. Será que ainda precisamos sacrificar bodes ou cabritos? Não! Porque o Cordeiro de D’us, que é Yeshua, foi imolado por nós como sacrifício eterno.[2] Então, a Lei cerimonial para remissão de pecados não procede mais, pois Yeshua a cumpriu de maneira absoluta, sendo o redentor da humanidade. 

Os dez mandamentos contidos nas Tábuas da Lei, são bons exemplos da chamada Lei Moral. As leis morais são leis para toda a humanidade. Os homens não deveriam jamais matar, furtar, ou cobiçar os bens de seu semelhante. Mesmo crendo em Yeshua, este tipo de Lei jamais foi anulada, e ainda continua sendo válida para o crente. Na verdade, Yeshua trouxe as Leis do decálogo a um nível muito mais nobre quando disse que odiar um irmão era o mesmo que assassiná-lo, ou ainda, o olhar para uma mulher com olhares impuros, já constituía um ato de adultério. Dependendo do prisma que olhamos a graça, ela está num nível muito mais elevado do que os mandamentos da Lei, exigindo de todos nós um maior grau de renúncia e padrão moral.

Já a “Lei ética” nos ensina sobre as coisas práticas do cotidiano, como o relacionamento entre familiares e com o próximo. As Leis que preservam a saúde, por exemplo, nos ensinam a lavar as mãos para comer e a separar os alimentos entre os bons e os impuros. Estes são alguns exemplos de Leis éticas alimentares. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam”(ICo10:23). Aspectos indenizatórios, justiça aos empregados, a maneira de se relacionar com os outros, como trabalhar de maneira equilibrada em eficácia e com eficiência, são outros exemplos das Leis éticas. Yeshua jamais anulou estas Leis. Pelo contrário, Ele recomendou-as a todos.

Devemos nos preocupar com os princípios e propósitos de D’us, e não com a religião do homem. Sem fé é impossível agradar a D’us.“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados”(Cl 2:16) 

Em Lucas 4:16, vemos o costume de Yeshua de estudar a Torá aos sábados. Não podemos ser negligentes nem ignorantes acerca da Lei de D’us. Claro que somos livres para receber a Palavra de D’us como ela é, na íntegra e sem parcialidade, sem retirar nem acrescentar nada. Nós estamos em um projeto de restauração, e o que queremos não é trazer mais confusão e novas doutrinas, mas sim, nos voltarmos à qualidade da fé e, sobretudo, aos princípios bíblicos e judaicos vividos e promulgados pelos apóstolos do primeiro século. Independente da evolução do homem ou do mundo, a Palavra e os princípios de D us continuam imutáveis e eternos. 

Finalmente, devemos estudar a Torá tendo em vista que é impossível esgotar todo o entendimento e sabedoria que ela nos traz. Assim, sendo D’us de infinita sabedoria, soube Ele nos revelar esta sabedoria. Há segredos e muitos tópicos ainda ocultos na Torá, que entenderemos somente no tempo do Eterno e através de Seu Santo Espírito. Portanto, com humildade digo que este livro tem o propósito de apenas abrir nossos corações para algo infinito e eterno que vem do próprio Criador de todas as coisas.
 

(*) Marcelo M. Guimarães 

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